Esta história de alimentar a cultura bufa incentivando as pessoas a chamar a polícia para multar um tipo que se recuse a deixar de fumar num local proibido está a fazer-me saltar a tampa !
Falem, discutam, façam, excepcionalmente, uma ou duas daquelas cenas tristes em que o português é exímio - Apaga lá essa merda ou vou-te ao focinho ! Tu e mais quem ? Agarrem-me que eu vou-me a ele... etc, etc.
Eu sei, não é bonito, mas tudo é preferível a fazer queixinhas à polícia !
Logo no primeiro dia da aplicação da lei um desses lá chamou - Ó sr.guarda venha cá, está aqui um, está aqui um !
Alá é grande, o Buda é gordo, só o nosso é que é invisível...mas desta vez até lá estava : o prevaricador tinha-se ido embora e quem levou com a multa foi o delator que não tinha aviso na porta !
Mas a coisa não é de agora...
No tempo do Salazar havia muita coisa proibida, algumas completamente ridículas.
Por exemplo, eram proibidos os beijos na via pública e, sem a respectiva licença, não se podia acender um isqueiro.
O rectângulo de cartolina fina, com um selo branco, brasão da república e o pomposo título de LICENÇA DE ISQUEIRO, tinha de acompanhar sempre o utilizador.
Quem passava a licença era a Fosforeira Nacional, que não sendo uma empresa estatal era como se fosse, já que era de uma família muito amiga do ditador.
Estou mesmo a ouvir a conversa. - ó António apareceram aí uns aparelhómetros que fazem chama e estão-me a estragar o negócio.
- Vou já proibir isso ! Vão ter de te pagar o prejuízo ! Passa-lhes uma licença ! Vou já fazer uma lei !
O isqueiro podia ser aceso ' debaixo de telha '. Na rua só com licença. Do nada surgia um paisana, levantava a lapela e lia-se fiscal. Que raio de profissão - fiscal de isqueiros.
A licença custava 10$00 e a multa era de 250$00 ( um ordenado, na altura !) e seria dividido assim: 70% revertia para a Fosforeira, 30% para o fiscal, quantia esta a ser dividida,quando era o caso, com o delator da infracção, vulgo ' o chibo '.
Estão a ver a cena ? Ó Sr.guarda venha cá, está aqui um, está aqui um !
Os chibos tiveram o seu tempo áureo na altura da pide, treinavam com as licenças de isqueiro e tiravam o tirocínio a lixar a vida do parceiro do lado.
Não me apetece nada vir a viver num país de chibos !